Refúgio

Carta do Refugiado às Nações, de Moisés António

Sou um ser e não uma coisa
Ainda que eu fosse uma coisa, 
não seria a de sem valor!

Sou movido a deixar a minha terra
Aquela terra de origem pátria amada,
que um dia me viu nascer,
me viu crescer,
me viu sorrir,
Sorrir para a vida, 
- Vida, o grandioso presente de Deus para as nações!

Hoje...
estou aqui
amanhã acolá,
Sou um barco movido a vela
forçado pela força do vento, pra chegar ao destino!

Outra hora...
Sou uma andorinha,
movido pela estação a procura de melhores condições de vida!
E p'ra me moverem, 
São vocês que praticam as guerras
Fazendo prevalecer o ditado: 
NA LUTA DE 2 ELEFANTES, 
QUEM PAGA COM AS VIDAS, SÃO AS GRAMAS OU O CAPIM!

São nossas vidas jogadas ao nada,
Somos barrados nas fronteiras...
como se tivêssemos cometidos crimes!
Uns cometem, pagamos nós!
Matam-nos,
Hostilizam-nos, 
Mortos, jogam-nos como lixo feito nada
Tudo porque, um diz quem manda aqui sou eu,
E outro do outro lado responde, a terra é minha!
E tudo resulta em uma colisão, e quem morre sou eu!
OH CREDO, A TERRA É DE DEUS!!!

Hoje...
Venho aqui, porque não tenho terra!
Amanhã vou ali também não tenho terra!
Tudo é terra!

O Nativo diz:
Não tens aqui o direito,
Tu que me vens tirar o trabalho...
então sou submetido ao trabalho escravo, 
porque quero viver a vida!

Ó Céus!
Oh, credo!
Só quero viver a vida
Quero liberdade
Busco a justiça
Quero também pelo menos uma única oportunidade
Para que eu sobreviva e mitigue a minha sede!
Tenho fome, quero roupa, quero abrigo,
Só quero viver a vida!

Repito: NÃO TENHO TERRA, TUDO É TERRA!
Tenho uma vida
Que também merece ser vivida
Um presente de Deus eterno para todas as nações!

Sou um barco à vela
À busca de um destino
Por favor, me respeitem, só quero viver a vida!

Retirantes, de Cândido Portinari
Retirantes, de Cândido Portinari

Nana del Mediterráneo, de María José Llergo | Canção de embalar do Mediterrâneo, de María José Llergo

Espuma blanca que lava el mar | Espuma branca que lava o mar
Le hiciste cuna de agua y sal | Fizeste-lhe berço de água e sal
Las estrellitas del cielo | As estrelinha do céu
Con nácar peinan su pelo | Com madrepérola penteiam o seu cabelo

Duerme, mi niño, no llores más | Dorme, meu menino, não chores mais
Aguas serenas, aguas serenas | Águas serenas, águas serenas
Te mecen ya | Já te embalam

Lloran los cielos, aulla el mar | Choram os céus, uiva o mar
Mueren los sueños en ultramar | Morrem os sonhos em ultramar
Las olas sellan su tumba | As ondas selam o seu túmulo
Europa pierde las uñas | Europa perde as unhas

Duerme mi niño, no llores más | Dorme, meu menino, não chores mais
Aguas serenas, aguas serenas | Águas serenas, águas serenas
Te mecen ya | Já te embalam


Crise dos refugiados do Mediterrâneo é "o novo Holocausto" europeu
Crise dos refugiados do Mediterrâneo é "o novo Holocausto" europeu

A busca por uma vida melhor, a fuga a uma vida de miséria e a única solução para muitos. 

A esperança e a coragem de deixar tudo e todos para trás rumo a uma tentativa de começar de novo, partir à descoberta, confrontando o medo e os receios,  por meio de condições deploráveis, onde são inúmeros aqueles que ficam pelo caminho, que são embalados pelo Mediterrâneo, tal como refere María José Llergo, e que nunca chegando ao seu destino, afundam consigo as esperanças, os sonhos e os desejos. 

Os que chegam a terra sãos e salvos merecem uma oportunidade, merecem novas e melhores condições, merecem uma receção calorosa, um abraço amistoso como forma de aconchego, uma vez que, tal como refere Moisés António, "Tenho uma vida que também merece ser vivida".

Escolhi o título refúgio para este grupo porque é o momento de sermos uns para os outros, de nos colocarmos no lugar do outro, de olharmos verdadeiramente nos olhos dos outros, de sermos o Refúgio dos que mais necessitam: dos que se refugiam, perdendo tudo e todos apenas pela busca de um pouco de liberdade, de um pouco de justiça pela vida, porque todas as vidas importam, e ninguém é mais que ninguém para ditar liberdades. É o momento de evitar e prevenir que os Retirantes, de Cândido Portinari continuem com os olhos carregados de tristeza e vazios de tudo o que é esperança.


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