Refúgio
Carta do Refugiado às Nações, de Moisés António

Nana del Mediterráneo, de María José Llergo | Canção de embalar do Mediterrâneo, de María José Llergo
Espuma blanca que lava el mar | Espuma branca que lava o mar
Le hiciste cuna de agua y sal | Fizeste-lhe berço de água e sal
Las estrellitas del cielo | As estrelinha do céu
Con nácar peinan su pelo | Com madrepérola penteiam o seu cabelo
Duerme, mi niño, no llores más | Dorme, meu menino, não chores mais
Aguas serenas, aguas serenas | Águas serenas, águas serenas
Te mecen ya | Já te embalam
Lloran los cielos, aulla el mar | Choram os céus, uiva o mar
Mueren los sueños en ultramar | Morrem os sonhos em ultramar
Las olas sellan su tumba | As ondas selam o seu túmulo
Europa pierde las uñas | Europa perde as unhas
Duerme mi niño, no llores más | Dorme, meu menino, não chores mais
Aguas serenas, aguas serenas | Águas serenas, águas serenas
Te mecen ya | Já te embalam

A busca por uma vida melhor, a fuga a uma vida de miséria e a única solução para muitos.
A esperança e a coragem de deixar tudo e todos para trás rumo a uma tentativa de começar de novo, partir à descoberta, confrontando o medo e os receios, por meio de condições deploráveis, onde são inúmeros aqueles que ficam pelo caminho, que são embalados pelo Mediterrâneo, tal como refere María José Llergo, e que nunca chegando ao seu destino, afundam consigo as esperanças, os sonhos e os desejos.
Os que chegam a terra sãos e salvos merecem uma oportunidade, merecem novas e melhores condições, merecem uma receção calorosa, um abraço amistoso como forma de aconchego, uma vez que, tal como refere Moisés António, "Tenho uma vida que também merece ser vivida".
Escolhi o título refúgio para este grupo porque é o momento de sermos uns para os outros, de nos colocarmos no lugar do outro, de olharmos verdadeiramente nos olhos dos outros, de sermos o Refúgio dos que mais necessitam: dos que se refugiam, perdendo tudo e todos apenas pela busca de um pouco de liberdade, de um pouco de justiça pela vida, porque todas as vidas importam, e ninguém é mais que ninguém para ditar liberdades. É o momento de evitar e prevenir que os Retirantes, de Cândido Portinari continuem com os olhos carregados de tristeza e vazios de tudo o que é esperança.